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Champanhe: Tudo Sobre Essa Bebida de Reis [2022]

champanhe champagne capa

Conhecida como a bebida dos reis, o champagne tem presença garantida em momentos comemorativos. De coloração geralmente dourada e sabor marcante, essa deliciosa bebida é comercializada em alta escala, correspondendo a 10% dos espumantes produzidos no mundo.

Sua história é considerada recente, aproximadamente 400 anos, se comparada a do vinho, mais de 8 mil anos de história. O seu primeiro registro é do ano de 1531, no sul da França, numa abadia de monges beneditinos.

Apesar da popularidade dos espumantes, para o vinho ser considerado champagne é necessário que ele siga uma série de protocolos. Acompanhe a leitura e descubra os segredos por trás dessa saborosa e refrescante bebida.

champanhe champagne

A Origem do Champanhe

A verdadeira data de criação dos vinhos espumantes é incerta, mas através de registros e histórias é possível saber a época em que essa bebida se tornou popular e começou a ser produzida para comercialização.

Pode-se dizer que o vinho espumante foi criado acidentalmente e o processo para se que ela se tornasse oficialmente aceita pela sociedade demorou um pouco. Na época, os franceses acreditavam que bolhinhas no vinho era sinal de má qualidade no processo de fabricação.

O processo padrão da fabricação de vinhos na época consistia em colher uvas selecionadas, coloca-las em barris feitos da madeira do carvalho, e amassá-las de forma a extrair o mosto das uvas.

Depois o sumo das uvas permanecia lá para sofrer fermentação por meio das leveduras. As leveduras, por sua vez, se alimentam do açúcar natural das uvas, transformando em álcool e gás carbônico (CO2).

O gás carbônico é o responsável por criar bolhas de ar dentro da bebida. Mas como as uvas não eram tão doces, o processo de fermentação não gerava tanto álcool e só uma pequena quantidade de CO2. O pouco de gás carbônico que era gerado escapava com o tempo.

Champanhe – O Início de Tudo

Conhecendo a forma como eram fabricados os vinhos, dá pra entender melhor então como o champagne foi acidentalmente criado. Por volta do ano de 1600, havia uma abadia de monges beneditinos, numa cidade situada no sul da França, onde era produzido um tipo de vinho, o Gris.

Naquela época, os franceses levavam os barris de vinho para serem engarrafados na Inglaterra. Durante a viagem, com a movimentação dos navios e com as mudanças de temperatura, ocorria uma segunda fermentação involuntária dos vinhos, gerando bolhinhas de gás carbônico.

Ao perceberem isso, os franceses achavam que a bebida estragava durante as viagens e que isso reduzia a qualidade dos vinhos.

Mas os ingleses gostaram desse efeito efervescente, o que foi um incentivo para que os franceses continuassem a produzir vinhos borbulhantes, mesmo a contragosto.

champanhe champagne liquido

Christopher Merret

Os ingleses não quiseram depender da produção francesa e perceberam que o processo envolvia uma segunda fermentação do vinho.

Então, tentaram imitar todo o processo utilizando maior quantidade de açúcar no mosto da uva na tentativa de que as leveduras gerassem maior quantidade de gás carbônico.

No ano de 1662, um cientista inglês chamado Christopher Merret chegou a descrever o processo de adição de açúcar no mosto como Segunda Fermentação Controlada, sendo ele o primeiro a documentar essa técnica de produção de vinhos espumantes.

Dom Pierre Pérignon

No ano de 1668, a abadia de Hautvillers situada ao sul da cidade de Reims, na região de Champagne, na França, foi assumida pelo monge Dom Pierre Pérignon.

Ele tinha muito conhecimento sobre a produção de vinhos, portanto ele fez várias mudanças no processo de produção tradicional da época.

Dentre essas mudanças, as principais foram a criação do método conhecido como Champenoise, o estabelecimento de novas regras para a colheita das uvas, e o aperfeiçoamento da técnica conhecida como Assemblage.

Além disso, só as melhores uvas podiam ser usadas para a produção de vinhos.

Essas ideias surgiram para dom Perignon ao perceber que após o inverno, as garrafas de vinho estocadas explodiam sem explicação. Isso acontecia devido às mudanças bruscas de temperatura da região de Champagne, cujo inverno era rigoroso.

Durante o inverno, as bebidas estocadas tinham seu processo de fermentação interrompido devido às baixas temperaturas.

Mas, ao chegar a primavera, a fermentação reiniciava, sendo considerada uma segunda fermentação da bebida, o que criava uma grande pressão no interior das garrafas devido à alta concentração de CO2.

A Contribuição dos Reis

Foi então em 1687 que o Dom Pérignon estabeleceu oficialmente o método Champenoise, que é basicamente uma versão aperfeiçoada e otimizada do método da Segunda Fermentação Controlada descrito por Christopher Merret.

Além disso, Dom Pérignon teve a ideia de utilizar rolhas de cortiça presas por um arame para vedar as garrafas de vinho espumante, ao invés de tampas de metal, evitando assim que a pressão do líquido lance as para fora.

Nessa época, o rei da França Luís XIV experimentou e aprovou a bebida produzida por Dom Pérignon. Foi quando os vinhos espumantes da região de Champagne começaram a ficar populares.

E 14 anos após a morte de Dom Pierre Pérignon, uma produtora chamada “Ruinart” resolveu usar essas técnicas e fabricar os vinhos espumantes, em 1729.

Apesar da empresa Ruinart ser a primeira produtora exclusiva de champagne na época, ainda não vendia muitas garrafas.

Esse cenário foi melhorando com a ajuda do Rei Luís XV, que gostava muito desse tipo de vinho borbulhante e fazia questão de servir no palácio de Versalhes.

Velve Clicquot

Mas foi somente no século XIX que o champagne começou a ganhar popularidade, graças a uma mulher chamada Barbe-Nicole Ponsardin, esposa de François Clicquot.

Eles possuíam uma fábrica de tecidos e uma produtora de vinhos de pouco sucesso.

Em 1805, François Clicquot faleceu, apenas 6 anos após o casamento. Então, Barbe-Nicole utilizou a herança para assumir os negócios da vinícola e fazê-la prosperar. E foi o que aconteceu!

Ela apostou na produção de vinhos extremamente doces, com aproximadamente 140 gramas de açúcar por litro de mosto.

Mas ela sabia que os russos adoravam um vinho doce. Porém, na época, a Rússia estava em guerra com a França, que era controlada por Napoleão Bonaparte.

Então, Barbe Nicole teve a ideia de produzir milhares de garrafas e estocar tudo em Amsterdã, de forma a facilitar o transporte pra Rússia.

Assim que a sua produção chegou na Russia, o sucesso foi garantido. E, pouco tempo depois a marca dela se tornou a mais valiosa no mundo dos espumante, sendo nomeada como produtora Velve Clicquot, que significa Viúva Clicquot.

Moet Chandon

A Maison Moët & Chandon é uma produtora de champanhe fundada em 1743 por Claude Moët. Nos dias atuais produz anualmente por volta de 28.000.000 garrafas.

A empresa é uma das maiores produtoras de champagne do planeta. Em 1962 ela foi a primeira produtora listada na Bolsa de Valores da França.

champanhe champagne moet 2

Sediada na cidade de Épernay, a Moet Chandon começou entregando os vinhos da região de Champagne em Paris.

Com o reinado de Luis XV incentivando as vinícolas, a Moët expandiu rapidamente e, pelo final do século 18 já estava exportando a bebida para toda a Europa e Estados Unidos.

Existem relatos que entre seus clientes exclusivos, estavam Thomas Jefferson e Napoleão Bonaparte.

É muito comum que a marca, inclusive, trabalhe com celebridades como Roger Federer atualmente, por exemplo:

Sua garrafa mais conhecida é a linha Dom Perignon, que existe em homenagem ao monge beneditino conhecido como o “pai de Champagne”.

A Moët & Chandon hoje é a fornecedora oficial de champanhe à rainha Elizabeth II.

Veja Também: Foie Gras: Conheça A História Desse Ingrediente Polêmico

Como É Preparado o Champanhe?

Há uma série de protocolos a serem cumpridos para que as bebidas possam receber o nome “champagne”.

A colheita precisa ser feita a mão, devem ser respeitados os tipos específicos de uva que podem ser usadas, e mais o importante: tem que ter sido produzido na cidade de Champagne.

Para a preparação do autêntico e verdadeiro champagne, devem ser seguidas as etapas a seguir:

1ª Etapa – ASSEMBLAGE

A Assemblage é um método em que os enólogos misturam diferentes tipos de vinhos para gerar um com sabor único. No caso do champagne, são misturadas de uvas de diferentes safras, espécies de videiras, épocas de colheita e até de locais diferentes. Mas todas as uvas precisam fazer parte da região de Champagne.

Tudo isso é feito de forma a conseguir um sabor único e incomparável. No caso do champagne, as uvas mais utilizadas são a Chardonnay, a Pinot noir e a Pinot meunier. A Chardonnay, usada em maior proporção, é uma uva do tipo branca. Já as demais são uvas tintas.

2ª Etapa – CHAMPENOISE

Também conhecido por Método Tradicional, o método criado por Dom Pérignon consiste em fermentar o mosto, que é o sumo da uva fresca, duas vezes.

A primeira fermentação é feita em tanques de madeira ou aço inox ou concreto, e a segunda é feita já nas garrafas guardadas em adegas.

É na segunda fermentação que a bebida adquire gás carbônico, já depois de engarrafadas. E é no processo de engarrafamento também que os produtores usam o Liqueur de Tirage (ou vinho de dosagem).

  • Fermentação: a fermentação ocorre por meio da adição de leveduras, que podem tanto ser encontradas na natureza quanto produzidas laboratorialmente, sendo estas a mais utilizadas por serem mais eficazes.
  • Engarrafamento: nesse processo é adicionado o Liqueur de Tirage, que é uma mistura de vinho, açúcar (aproximadamente 24 gramas por litro) e leveduras (para realizar a segunda fermentação).

Depois, fecham-se as garrafas com tampas de metal e as deixam descansado na adega posicionadas de cabeça pra baixo por meses ou até anos. Dessa maneira, os sedimentos, também chamados de borra, se concentram no gargalo, facilitando a retirada.

3ª Etapa – REMUAGE

Essa etapa é realizada durante o processo da segunda fermentação que acontece já dentro da garrafa. Consiste em rotacionar as garrafas em um ângulo de 90º para que os sedimentos que estão grudados nas paredes das garrafas se soltem e vão para o gargalo.

Esse processo é feito regularmente.

4ª Etapa – DEGORJAMENTO

O degorjamento é o processo feito para retirar os sedimentos da garrafa e deixá-la pronta para comercialização. Primeiro, o gargalo é congelado, e ao retirar a tampa, a pressão expulsa a borra.

Após isso, adiciona-se um pouco de licor de dosagem (vinho + açúcar), mas ao invés de leveduras, usa-se dióxido de enxofre. A quantidade de açúcar nesse licor vai determinar se o champagne será brut, seco ou demi-seco.

Por fim, a garrafa é fechada com rolha de cortiça especial e arame, e está pronta para ser comercializada ou armazenada em adegas.

champanhe champagne servindo 2

Qual é a Diferença Entre Champanhe (champagne), Espumante e Frisante?

É comum confundir os três tipos de vinho. Embora pareçam iguais, eles têm diferenças entre si que definem o sabor, a qualidade e o valor final da bebida. A principal diferença se encontra no processo da fabricação.

Para que um vinho borbulhante possa ser considerado champagne, é necessário que ele tenha sido fabricado na região de Champagne.

Além disso, somente podem ser produzidos a partir das uvas Chardonnay, Pinot Noir e Pinor Meunier, por meio do método Champenoise. Esses critérios garantem a originalidade da bebida.

O espumante passa por um processo parecido com o champagne, mas além de serem feitos em várias outras regiões do mundo e serem utilizadas uvas diversas, o método de produção geralmente é o Charmat.

No método Charmat, a segunda fermentação não é feita em garrafas, e sim em tanques de aço inoxidável. Nos espumantes, o número de bolhas é maior devido à maior quantidade de gás carbônico produzido.

Por fim, o frisante passa por apenas uma fermentação, e sua efervescência é provocada pela adição de anidrido carbônico.

Por isso, o frisante tem um preço de comercialização bem menor que as outras bebidas, e além disso, possui menor quantidade de bolhas.

Classificações do Champanhe

A depender da quantidade de açúcar que é adicionado pelo Liqueur de Tirage no processo da segunda fermentação, o champagne pode ter até seis tipos de classificações:

Doux (doce)

Possui uma quantidade de mais de 60 gramas de açúcar por litro. Combina com doces e frutas.

Demi-sec (semi-seco)

A quantidade de açúcar varia entre 20,1 e 60 gramas por litro. Harmoniza com queijos e frutos do mar.

Sec (seco)

Possui entre 15,1 e 20 gramas de açúcar por litro. É melhor consumido com petiscos e aperitivos.

Brut (bruto)

Apresenta uma quantidade açúcar que varia entre 8,1 e 15 gramas por litro.

Extra-brut (extra bruto)

Contem cerca de 3,1 a 8 gramas por litro de açúcar. Muito consumido com massas de molho branco e lagostas.

Nature (natural)

É o tipo mais seco que existe, contendo apenas 3 gramas por litro de açúcar. O termo “natural” vem do fato de que após o processo de degorjamento não é adicionado o licor de dosagem.

Curiosidades Sobre o Champanhe

  • Atualmente a região de Champagne produz aproximadamente 300 milhões de garrafas de champagne por ano.
  • A melhor forma de consumir o champagne é frio e não gelado, como muitos supõem.
  • Em 2016, a região de Champagne foi anunciada Patrimônio da Humanidade.
  • O champagne precisa ser consumido em taças especiais, que precisam estar bem limpas e sem resíduos.
  • Como costumam dizer, todo champagne é espumante, mas nem todo espumante é champagne.

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Escrito por A Cozinha Francesa

A Cozinha Francesa é um site que existe para demonstrar todo o amor que temos por essa gastronomia maravilhosa. Aqui você vai encontrar receitas, dicas, ingredientes e tudo que gira em torno da cozinha francesa.

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